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O que tem de especial em “Bellacoso”, o novo hit de Residente e Bad Bunny?

A dupla vem quebrando paradigmas do gênero urbano latino, e não é de hoje. Mas com “Bellacoso” foi diferente. Estariam Residente e Bad Bunny mostrando um novo jeito de fazer música urbana?

Bad Bunny e Residente em "Bellacoso" | Foto: Divulgação

Cultura baixa, machista e de péssimo gosto


O Reggaeton nunca foi lá muito polido. A prova disso é um programa televisivo dos anos 1990 muito revisitado pelos fãs do gênero hoje em dia. Se trata do Controversial por Carmen Jovet. Como o próprio nome já adianta, um dos líderes de audiência da TV porto-riquenha, naquela época, procurava polemizar assuntos. Em um auditório, a apresentadora entrevistava personalidades que estavam dando o que falar na ilha.

Na ocasião, Hector “El Father”, Tito “El Bambino”, Don Chezina, Master Joe e Alberto Style, bem novinhos, se encontram no centro do palco. Em certo ponto do programa, um adolescente promissor dá sua opinião. Era o Nicky Jam. Tudo é questionado e criminalizado pela apresentadora e pela audiência na plateia: letras, roupas, vídeos… O gênero era tratado como cultura baixa, machista e de péssimo gosto.


Mas sejamos sinceros: o que era o Reggaeton nos anos 1990, senão música de cultura baixa, machista e de péssimo gosto? As produções eram bem mal feitas, os cantores gritavam e desafinavam, e as letras estavam repletas de violência. No entanto, cultura é cultura e tem que ser valorizada, aqueles jovens nunca tiveram acesso à educação de qualidade e eles, simplesmente, narravam o que viviam: um período grave na economia porto-riquenha, onde pouco se investia nas classes mais baixas.

(Veja só o início deste vídeo de Baby Rasta & Gringo de 1997 e entenda do que estou falando)

Foi nesse contexto em que o Reggaeton nasceu. O que os críticos não esperavam é que aqueles jovens fossem tão talentosos e que tivessem uma visão de negócio tão boa. Por isso, o gênero se desenvolveu e cresceu. Durante esse tempo, as músicas e os vídeos ficaram mais produzidos, mas a essência permanecia ali, através das letras agressivas e da presença das mulheres - sempre magras e muito arrumadas - dançando com pouca roupa nos clipes.

(Em "Latigazo", de Daddy Yankee e lançado em 2002, a secretária chega com uma pasta e o decote aberto para o chefe, interpretado pelo cantor. Depois, começa a se esfregar nele. Quer coisa mais non sense?)

Em 2005, chegou “La Gasolina” e pouca coisa havia mudado no conteúdo do Reggaeton. Os avanços se limitavam às produções. Assim prosseguiu a evolução do gênero até meados dos anos 2010, quando o perreo à moda antiga praticamente desapareceu. Entraram em cena os artistas colombianos, com uma pegada muito mais pop.

As letras ficaram bem mais suaves, mas ainda se tinha uma obsessão e super sensualização do corpo feminino. Era quase como se negassem a existência de diferenças. Ninguém se arriscava colocar pessoas gordas, trans ou com alguma deficiência nos vídeos, quem dirá nas letras.

Claro que houve exceções. Baby Rasta & Gringo, em 2015, no vídeo da canção “Un Beso”, mostrou um romance de um casal com Síndrome de Down. Mas exemplos assim são raríssimos.

(O que não são 18 anos na carreira de um artista, não é mesmo?)

O hater do Reggaeton


Descobertos pelo produtor Elias de León, também conhecido como White Lion, os irmãos Residente (René Pérez) e Visitante (Eduardo Cabra) começaram sua carreira na banda Calle 13 surfando na onda do Reggaeton perreo de 2005. Quem não se lembra de "Chulin Culin Chunfly" ou "Atrevete"? Mas não demorou muito para que os caminhos da banda começassem a divergir do gênero.

Virou quase costume ver Residente criticar o Reggaeton por aquilo que, dez anos antes, era criticado na TV. A diferença era que, dessa vez, essas palavras vinham de um artista urbano que repudiava a temática dos malianteos (tipo de Reggaeton que fala de armas e de uma vida na criminalidade) e os perreos (que supersensualizavam as mulheres). Desde “Yo quiero que lloren” e “Adentro”, do período Calle 13, até a tiraera com Tempo, já em sua carreira solo, Residente não limitava suas críticas às entrevistas, levando-as, também, à música. Ele já não era mais parte do movimento Reggaeton.


Um trapper diferentão


Hoje, entre os artistas mais escutados do mundo, Benito Martinez, ou Bad Bunny, tem uma carreira sólida na música, aos seus 24 anos de idade. Ele mesmo diz que foi criado à base de muito perreo e Calle 13 para se tornar o artista que é hoje.

A carreira do trapper explodiu em 2015, quando foi descoberto pelos produtores Dj Luian e Mambo Kingz. A partir daí, foi sucesso atrás de sucesso: “Diles”, “Tú no vives asi”, “Soy peor”... Bad Bunny mostrava que não ia ser um artista urbano comum, mas mesmo assim os vídeos não saiam tanto das propostas dos demais cantores da sua geração.


Até que, em 2018, o cantor decide sair da tutela da Hear This Music e tentar uma carreira independente. A canção de estreia, “Estamos bien”, já mostra um novo Bad Bunny nascendo. O vídeo diferentão e a letra com uma temática que saia do lugar comum da música urbana comercial foram a antessala do álbum “X 100pre”. Uma verdadeira obra de arte, fora de todos os padrões do Trap (inclusive estadunidense).


Safados



Agora que já conhecemos os personagens, vamos à história, de fato: depois de liderarem os protestos pela renúncia do governador de Porto Rico, Ricardo Rosselló - com direito à tiraera ao político - René e Benito decidiram lançar um perreo para comemorar. Você deve estar pensando “ah, mas eles já estavam divulgando a música antes”. Tudo bem, é verdade. Mas o lançamento como comemoração pela vitória política no berço do perreo veio bem a calhar.

O vídeo começa com uma moça segurando um picolé. Quando ela o lambe, mostra que efeitos visuais não vão faltar. Logo depois, começam os movimentos com efeito de “se mover” no Google Street View, que vai nos acompanhar até o final.




Residente, então, começa a cantar sentado em uma cadeira de praia rodeado de bundas rebolando com fio dental. Um desavisado pode pensar que é só mais um vídeo de perreo com mulheres padrão modelando. Mas quando os dançarinos se viram, vemos quatro mulheres cis, três homens cis e uma mulher trans.




A próxima cena, mostra dançarinos performando algo parecido com a coreografia do clipe de “New rules” da Dua Lipa. A diferença é a dessincronização, que passa muito mais genuinidade. As roupas de banho são das cores da bandeira de Porto Rico - vermelho e azul - algo que vai aparecer muito no clipe.




Lá se vão 30 segundos e padrões de gênero e sexualidade já foram quebrados. Agora é a vez dos tipos de corpos. Nada de dançarinas saradas ao redor de Residente.




Mais umas transições à Google Street View e efeitos visuais bem divertidos, para chegar a Residente cantando ao lado de White Lion na beira da praia, exatamente onde as ondas quebram. O cantor faz referência ao produtor que o descobriu, há quase 10: “Con este dembow les quito el hambre, se habían olvidao’ de que tengo a White Lion en la sangre”. O que, na prática, significa: “Lembra como eu fazia perreo quando comecei? Então, ainda sei fazer”.




A seguir, Residente sai do meio de uma fila de pessoas de todas as cores para o refrão. “Bellacoso” significa “safado”, no sentido sexual. Mas também pode significar algo muito bom.




De novo, várias piras muito criativas com efeitos, cenários, interpretações e movimentos de câmera, para começar a parte de Bad Bunny. No terraço de um prédio, o trapper canta em um churrasco bem latino. Em um círculo de amigos, atrás do cantor, dá para ver um ator usando a camiseta de “Reggaeton” de J Balvin, uma referência que mostra o gênero sendo muito bem representado ali. Aí aparecem cabelos estilosos e em baixo dos braços das modelos.






Até as bandeiras porto-riquenhas dançam, uma referência ao ritmo do povo borícua. Outro ponto de patriotismo no vídeo, é a aparição do maior astro do esporte da ilha, Tito Trinidad. O lutador é um dos principais atletas do boxe mundial e, por lá, as pessoas se juntam nas casas umas das outras para assistir às suas lutas.



Antes de terminar duas curiosidades: a pessoa à direita de Residente, com os olhos flamejando, é o irmão dele, o poeta Gabbu Cabrah. E, quando ele diz, ao final da música, “Trujillo Alto y Vega Baja”, faz referência às cidades natais dos cantores, sendo a primeira dele e a segunda de Bad Bunny. Já quando diz “TOYS R’ US en la casa, ECONO en la casa”, a referência é ao emprego deles antes da fama: René trabalhava em uma loja de brinquedos e Benito em um supermercado.




Definitivamente, a dupla que, na mesma semana, uniu um país para derrubar sua autoridade máxima, conseguiu juntar água e óleo. Perreo e inclusão em uma mesma música. Agora é esperar para que o gênero assimile esse novo jeito de fazer arte, sem se render a padrões.


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