"Tu Historia": A reflexão sobre o Reggaeton feita por Tempo
Em 2013, o rapper Tempo saiu da cadeia onde morou por mais de 11 anos, condenado por porte ilegal de arma e tráfico de drogas. Logo que obteve a tão esperada liberdade, lançou uma Mixtape criticada por muitos. Segundo eles, Tempo estaria com o flow atrasado, parado na época em que havia sido preso e já não teria a fama que teve em outro momento. Quase dois anos depois, o público ainda estava incrédulo sobre o talento do rapper e não existiam boas expectativas para o futuro dele na música. Então Tempo decidiu lançar uma das canções mais marcantes da sua carreira: "Tu Historia". Nela, o rapper fala sobre a história do Reggaeton e critica fortemente alguns aspectos do gênero naquele momento. Embora a canção seja de 2015, ela está mais atual do que nunca e vale a pena a reflexão.
A canção começa com uma retrospectiva das conquistas do gênero nos anos em que Tempo esteve preso, como os Prêmios Grammy da banda Calle 13, o sucesso da canção “Gasolina” de Daddy Yankee, o projeto de Hector "El Father" com o rapper norte-americano Jay Z, entre outros. Enquanto a música prossegue, Tempo vai mostrando como esse sucesso fez com que o Reggaeton se degradasse e perdesse sua essência. Mencionou, inclusive, a chegada das grandes gravadoras Universal Music e Sony Music. A primeira Tiraera direta vem quando Tempo menciona a dupla Rakim & Ken-Y que, para o cantor, vendiam uma imagem falsa do gênero. Na época, Rakim ficou muito incomodado e ameaçou revidar a menção, mas o ex companheiro musical, Ken-Y, disse que não valia a pena.
Depois o cantor nos convida a conhecer a verdadeira história do Reggaeton. Ele nos leva aos tempos quando tudo se baseava em fitas cassete que continham as instrumentais e não havia a visão comercial da música, já que a proposta do gênero era ser underground. A partir disso, Tempo mostra seu respeito até pela banda Calle 13, tão criticada por muitos do gênero, sem saber que anos depois ele estaria em uma das guerras líricas mais polêmicas da história com Residente. Mas na época, Tempo acreditava Calle 13 teve coragem de assumir que não fazia mais Reggaeton e que até hoje escrevem sobre a verdade, sem a falsidade comercial do Pop.
Tempo menciona também cantores e produtores pioneiros no Reggaeton como Wiso G, Don Chezina, Falo e Dj Playero que, por não se renderem às tendências, desapareceram. O rapper frisa: "houve uma história antes da 'La Gasolina'", algo que muitos se esquecem e que poderia ser atualizada dizendo "houve uma história antes de 'Despacito'". Em outro verso muito importante, Tempo diz que os aplausos dos novos cantores rendidos aos modismos provêm das sementes plantadas por cantores como Vico C e não tanto por esforço deles mesmos.
Uma das partes mais polêmicas da composição é a que Tempo menciona o Panamá. Qualquer reggaetoneiro que se preze já passou pela indagação: “Onde surgiu o gênero?”. Muitos dirão Panamá, outros dirão Porto Rico. A verdade é que ambas estão certas, cada uma com um ponto de vista diferente. Mas para Tempo, os panamenhos foram apenas uma influência, já que foi em Porto Rico onde se misturou o flow do Hip-hop com a sonoridade caribenha. Ele chega a mencionar Flex, um grande reggaetoneiro do Panamá que, segundo Tempo, não se compara aos seus compatriotas da "ilha do encanto"
Em relação às críticas que recebeu sobre seu estilo antiquado e maliantero, Tempo reconhece que é importante fazer músicas mais leves e até mesmo românticas, mas sem se render à monotonia de um Reggaeton Pop que se afaste muito das raízes do gênero. Para quebrar o gelo, Tempo também faz uma critica bem-humorada: sob o efeito de um AutoTune descarado, o rapper canta o verso “Ven mami vamonos pa’ la disco”, em uma evidente ironia aos cantores de Reggaeton Pop famosos na época.
É importante lembrar que a canção foi lançada antes do boom de "Despacito" e antes que os norte-americanos e cantores de Pop Latino começassem a usar o Reggaeton como um "novo Pop". Pode ser que se fosse lançada hoje em dia, Tempo criticaria também as repetitivas letras de Trap Latino, de onde ele também come. O fato é: em 2017, o ano que o Reggaeton dominou o mundo, não podemos esquecer de onde veio o gênero. Ele não nasceu Pop, e se hoje é reconhecido, temos de agradecer às raízes e valorizar os primeiros expoentes que eram censurados e marginalizados para criar o Reggaeton.
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